Colegas,
Mais uma vez comemoramos nosso dia. Desde minha infância lembro-me, sendo filho de professor, de ter a data lembrada pelos meus pais. Depois, quando aluno, o diretor da escola falava algo sobre a data e sobre a importância do professor na sociedade, aplaudíamos e íamos para as aulas como em qualquer outro dia... O tempo foi passando e a data tomou um caráter de festividade e ao mesmo tempo de convite para uma reflexão sobre nossa condição profissional e para reivindicações.
Com mais de 60 anos de carreira, sempre me considero feliz por ter me tornado professor. Se recomeçasse a vida, faria a mesma opção. O que não exclui minha reflexão, muitas vezes entristecedora, sobre o estado atual da nossa profissão e sobre o risco de desencanto de muitos colegas.
Recordo minha história de vida. Comecei a dar aulas com 16 anos. Eram classes informais, de preparação de alunos para concurso público. Os alunos sempre se lembravam de ser dia do professor e levavam algo para comemorar. Mas eu não percebia, ainda, que eu não estava sendo um professor no verdadeiro sentido da palavra, isto é, um educador. Eu estava treinando indivíduos, adultos e já educados para irem bem nos concursos. Eles geralmente se saiam bem e eu me sentia realizado. Somente alguns anos depois, quando acabei de completar vinte anos, assumi aulas em classes regulares, do curso ginasial e do colegial, nas quais alguns alunos tinham quase a minha idade. Percebi então que minha missão ia muito além de treinar alunos para passar numa prova. O importante é educar para a vida, para ser um participante ativo na sociedade e estimular a criatividade. Assim superei agir como um professor/treinador e entendi que minha responsabilidade maior era ser um educador.
Estamos passando por uma fase difícil na profissão. Há uma grande incompreensão sobre nossa missão. Somos vistos pelas autoridades, pelos pais, pelos alunos e mesmo por alguns colegas como treinadores de jovens para passar em exames. Nessa visão distorcida de missão do professor, quando os resultados são ruins a culpa é dos professores. Sabemos que a causa do baixo rendimento é a própria conceituação de exames e testes padronizados como instrumentos de avaliação da educação. A situação é particularmente grave na disciplina matemática.
Não desanimem com essa incompreensão. Não posso nesta mensagem analisar essa injustiça com o trabalho dedicado e competente da classe docente, mas posso convidar os colegas a entenderem o mundo dos jovens. Deem a eles a oportunidade de serem criativos e procurem acompanhá-los. Façam com que a parafernália de que os alunos dispõem seja sua parceira na busca do novo, no desenvolvimento de projetos. A matemática será uma das disciplinas mais afetadas por transformações que resultam de toda a tecnologia disponível. Procurem acompanhar as novas direções que a matemática está tomando. Estejam alertas às publicações e aos eventos. A grande parceira dos educadores matemáticos é a Sociedade Brasileira de Educação Matemática. Aproveitem a riqueza das publicações dos eventos organizados pela SBEM e as suas várias possibilidades de acesso e links oferecidos pelo seu site. A tecnologia amplamente disponível trará a valorização do professor.
Abraços solidários nesse nosso dia.
Professor Ubiratan D`Ambrósio
Presidente honorário da SBEM
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